Seminário Capixaba Sobre o Ensino de Arte reflete sobre práticas disruptivas na formação em Artes

Seminário Capixaba Sobre o Ensino de Arte reflete sobre práticas disruptivas na formação em Artes

Entre os dias 5 e 7 de agosto de 2025, o campus de Goiabeiras da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), em Vitória, será palco de um dos eventos mais tradicionais e relevantes no cenário da arte e da educação no estado: o XVI Seminário Capixaba Sobre o Ensino de Arte (SCEA). Com o tema Percursos Disruptivos, o seminário traz para o centro do debate as transformações recentes no ensino da arte diante de contextos sociais e culturais cada vez mais complexos e desafiadores.

Criado em 1993, o SCEA é um evento bienal que, ao longo de 32 anos, consolidou-se como espaço de formação inicial e continuada para arte-educadores e arte-educadoras, reunindo professores, estudantes, pesquisadores, artistas e gestores culturais de todo o país. Organizado por professores dos Centros de Artes e de Educação da UFES, com apoio de secretarias municipais e estadual de educação, o seminário se tornou referência nacional na discussão sobre políticas públicas e práticas pedagógicas no campo da arte-educação.

A programação do evento acontece das 18h às 22h e inclui uma série de atividades voltadas à promoção do conhecimento, da troca de experiências e do fortalecimento das redes de ensino e pesquisa. Estão previstas conferências, comunicações orais, oficinas, exposições, apresentações culturais, lançamentos de livros e rodas de conversa. A conferência de abertura, marcada para o dia 5 de agosto, das 19h às 21h, terá como tema “Política e Formação de Professores”, e contará com a presença de convidados reconhecidos no campo da arte-educação brasileira.

Ensino de Arte entre a escola e o território

O XVI SCEA mantém o compromisso de valorizar as múltiplas expressões culturais presentes no território capixaba e fomentar o diálogo entre saberes acadêmicos e populares. A proposta de percursos disruptivos parte da necessidade de se repensar as metodologias tradicionais de ensino e enfrentar os desafios que se impõem na Educação Básica, sobretudo diante das mudanças curriculares recentes, como a implementação da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), e dos debates em torno da diversidade, da inclusão, da decolonialidade e da justiça social.

As discussões propostas dialogam diretamente com práticas que ocorrem não apenas nas escolas, mas também em espaços extraescolares, como centros culturais, coletivos artísticos, organizações comunitárias e espaços de educação informal. A intenção é evidenciar que o ensino da arte ultrapassa as barreiras da sala de aula, envolvendo uma complexa rede de experiências, afetos e territórios.

Larissa Zanim,diretora do Centro de Artes da UFES e uma das organizadoras do evento

Submissões e áreas temáticas

O seminário recebeu trabalhos de participantes de diferentes regiões do país. As submissões, encerradas em 30 de junho, foram organizadas em três áreas temáticas principais: Ensino de Arte em Espaços Escolares, Ensino de Arte em Espaços Extraescolares e História, Teoria e Crítica da Arte. Foram aceitos relatos de experiência, projetos pedagógicos, pesquisas acadêmicas e propostas de oficinas, fortalecendo a interdisciplinaridade e o caráter plural do evento.

Os trabalhos selecionados serão apresentados ao longo dos três dias do seminário, com destaque para práticas inovadoras que vêm sendo desenvolvidas nas escolas públicas, universidades e organizações culturais.

Presenças nacionais e fortalecimento da formação docente

Um dos destaques do XVI SCEA é a participação de docentes e pesquisadores de diversas instituições de ensino superior que oferecem cursos de Licenciatura em Artes Visuais, Dança, Música e Teatro. Essa presença amplia a dimensão do evento e favorece a construção de redes interinstitucionais voltadas ao fortalecimento da formação de professores de Arte.

O seminário também se propõe como espaço para refletir sobre as políticas públicas educacionais e seus impactos na formação docente. Questões como precarização do trabalho docente, desafios da formação continuada, práticas interdisciplinares e o papel das artes na formação humana são temas que perpassam a programação.

Além das conferências e apresentações. A programação busca equilibrar teoria e prática, reunindo atividades que promovem tanto a escuta quanto a experimentação, o debate e o fazer artístico.

Arte, educação e política cultural no Espírito Santo

Ao longo de sua história, o Seminário Capixaba Sobre o Ensino da Arte tem dialogado diretamente com os contextos políticos e sociais do Espírito Santo. A valorização das culturas locais, a defesa de uma educação pública de qualidade e o reconhecimento dos saberes produzidos nos territórios populares são marcas registradas do evento, que sempre buscou ouvir as vozes daqueles que atuam na linha de frente do ensino de Arte.

A edição de 2025, ao tratar dos “percursos disruptivos”, propõe uma escuta ativa das práticas pedagógicas que rompem com modelos normativos e dão visibilidade a experiências que tensionam as estruturas tradicionais da escola e da arte. Nesse sentido, o SCEA reafirma seu papel político e pedagógico como espaço de resistência, criação e reencantamento dos processos educativos.

Inscrição gratuita e credenciamento presencial

A participação no XVI SCEA é gratuita e aberta a professores da rede pública e privada, estudantes de licenciatura, artistas, gestores culturais e demais interessados no campo da arte-educação. As inscrições podem ser realizadas pela plataforma do evento até o início das atividades. O credenciamento dos participantes ocorrerá no dia 5 de agosto, das 16h às 18h, no campus de Goiabeiras da UFES.

Mais informações sobre a programação detalhada, convidados e certificados podem ser acessadas no site oficial do evento.

Entrevista

Daniel Hora

1.Essa edição do Seminário Capixaba propõe refletir sobre percursos disruptivos no ensino da arte. Como o senhor compreende essa ideia de ruptura nas práticas pedagógicas e o que ela pode provocar no cotidiano escolar?

Em parte, o desenvolvimento da mídia deriva de saberes e práticas artísticas. Mas sempre resulta em rupturas com o já estabelecido. Hoje, a inteligência artificial produz impactos que seriam comparáveis ao surgimento da fotografia, do vídeo e da internet, porém a intensidade e velocidade das mudanças parece muito mais evidente. O trabalho educativo na escola enfrenta, então, um desafio radical, que me parece muito mais abrangente do que a atualização tecnológica de seus instrumentos.

2.Quais os principais desafios que o ensino de arte enfrenta hoje na Educação Básica e como eventos como o SCEA podem contribuir para enfrentá-los?

Ao meu ver, a tarefa mais urgente e de difícil execução é relacionar linhagens artísticas com a inovação cultural das mídias, de modo bem contextualizado e crítico, para além da euforia ou do pavor em torno da inteligência artificial. O problema demanda o interesse e empenho coletivo, que eventos como o SCEA podem estimular a partir do intercâmbio de experiências e inquietações.

3. O Seminário tem como uma de suas marcas o diálogo entre universidade, escolas e territórios culturais. Como o senhor avalia a importância desse intercâmbio e o que considera essencial para fortalecer essa relação em tempos de políticas educacionais tão instáveis?

Entendo que a instabilidade é um fator diretamente derivado das transformações impulsionadas pela tecnologia. Para lidar com os impactos da inteligência artificial sobre a cultura, o que me parece mais importante é aproveitar o assunto como impulso para aproximação e integração dos âmbitos educacionais formais e não formais. Para isso, é essencial o mútuo interesse pela ampliação de perspectivas.

 

Biografia

Professor Adjunto do Departamento de Artes Visuais, da Universidade Federal do Espírito Santo, e professor do Programa de Pós-Graduação em Artes da mesma universidade. Coordeno e realizo pesquisas com apoio da Bolsa Pesquisador Capixaba (2022-2025) e Edital Universal (2021-2023) da Fapes. Minha atuação docente abrange os temas de arte e tecnologia, mídia, crítica e curadoria, com foco na cultura pós-digital, comunidades de compartilhamento e código aberto, estética, ativismo hacker e sistemas generativos. Sou um dos líderes do grupo de pesquisa Fresta: imagens técnicas e dispositivos errantes (Ufes). Além disso, participo dos grupos de pesquisa Curadoria e Arte Contemporânea (Ufes), AMBIENTE 33 – Espacialidades, Comunicação, Estética e Tecnologias (UnB), e Cuerpos Conectados/IMARTE (Universitat de Barcelona). Sou subcoordenador do projeto de extensão Processos de Criação em Curadoria (Ufes). Sou autor do livro Arte hacker: linguagens e materialidades da diferença tecnológica (Edufes, 2024/2025).

Daniel Hora

SERVIÇO

XVI Seminário Capixaba Sobre o Ensino da Arte – Percursos Disruptivos

Data: 05 a 07 de agosto de 2025

Horário: 18h às 22h

Local: Universidade Federal do Espírito Santo – Campus de Goiabeiras, Vitória – ES

Credenciamento: 05/08, das 16h às 18h

Inscrições: Gratuitas e online

Informações: [site oficial do evento ou contato da organização]